Terreiro de Raspa Comunitário na criação de animais (2011)

FAMÍLIAS DO DESTERRO MOSTRAM IMPORTÂNCIA DO TERREIRO DE RASPA NA CRIAÇÃO DE ANIMAIS

 

Composta por 53 famílias, a comunidade Desterro fica no município de Remanso, Bahia, a 60 Km da sede da cidade. A maioria das famílias é sócia da Associação dos Pequenos Produtores Agropastoril de Desterro e Arredores, que tem como presidente, José Roque Souza. Segundo José Roque, boa parte dos sócios participa do Terreiro Comunitário de Raspa. “Tudo começou quando um grupo da comunidade ia para a desmancha na beira do rio, na região da Melancia, conhecida por Malvina, que aprendeu a fazer a farinha quebradinha e a produzir a raspa da mandioca para os animais de forma manual. Naquele tempo a ração não tinha qualidade”, conta.

José Roque e a comunidade reconhecem que ter o terreiro proporciona não só uma raspa de qualidade, mas garante a máquina forrageira que serve para fazer outros tipos de forragens. As famílias moem a espiga do milho, a maniva, o sorgo e a palma. Fazem ração para 15 dias. O agricultor ressalta que o terreiro é um serviço mais para os homens e que as mulheres participam é das Casas de Farinha na época da desmancha, rapando a mandioca, espremendo a massa e na produção da tapioca e puba. Algumas mulheres também ajudam a arrancar a mandioca da roça. O período da desmancha faz parte da cultura das comunidades, por isso envolve mulheres, homens, jovens e crianças.

José Roque comenta que as pessoas que cuidam da manutenção do motor e arrecadam o dinheiro são Clementino, José Dias e Manoel. O milho, cada mói o seu e paga dois reais por saca. Para moer a maniva, o capim e a palma, paga-se por hora o valor de sete reais. A raspa da mandioca custa 50 centavos por saca. Ele recorda que para fazer uso do terreiro tem que agendar, principalmente, no período da seca que aumenta a procura. Este ano está mais tranquilo porque as famílias priorizaram a produção da farinha. A saca variou de 40 a 60 reais e a tapioca chegou a 150 reais. A raspa está sendo produzida mais para o consumo dos animais e para comercialização.

O terreiro, de acordo com José Roque, é uma aquisição de alguns sócios que se organizaram a partir de reuniões promovidas pelo SASOP e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais na comunidade. Seu Otacílio, integrante desse grupo, complementa dizendo que a construção do Terreiro de Raspa foi feita em mutirão para não perder tempo em serviço e que muita gente ajudou na escavação da cisterna, embora não cultivem canteiros.

O Terreiro de Raspa é composto por um depósito, onde se guarda o motor que faz a raspa e mói as plantas forrageiras e as ferramentas, além de um terreiro, uma cisterna subterrânea de 50 mil litros e 11 canteiros para horta comunitária. “Ter um Terreiro de Raspa é muito importante. Hoje conseguimos fazer uma ração limpa toda por igual, de qualidade e em bem menos tempo. Antes secávamos a ração no chão duro ou sobre uma lona e só aproveitávamos 70% porque o restante vinha misturada com terra”, lembra José Roque. O presidente da Associação diz ainda que não se aproveitava a maniva direito porque não tinham motor. Estocavam menos que agora e, quando precisavam usar uma forrageira, tinham de ir longe e gastavam bem mais. “Depois do Terreiro na comunidade tudo se tornou mais fácil”, afirma.

Seu Elice acrescenta que o terreiro de raspa melhorou a renda familiar, porque já não se leva mais a criação magra para vender, Os animais estão mais gordos. Ele diz que hoje tem o período certo para vender a criação. “O melhor preço é na seca porque é mais fácil de engordar os animais. No inverno a criação fica solta para pastar na caatinga”, conta.

A horta comunitária complementa o Terreiro. Dona Davina Dias de Souza, uma das mulheres que cultivou canteiro, diz que cada família cuidava de um. Ela só ficou cuidando por dois anos e sente muita falta, já que era o lugar de onde tirava a verdura necessária apenas para consumo. Dona Davina diz que, se o grupo voltar, será a primeira a estar presente. A cisterna ainda tem água, mas está rachada na parte de cima e precisa de consertos para segurar a água e não deixar vazar. Para Seu Elice, o ideal está sendo plantar perto dos caxios, na lagoa. “Tem mais de um ano que só cultivo seus canteiros por lá. Fica mais fácil para cuidar”, revela Seu Elice, ressaltando ainda a a importância de manter hortaliças na alimentação de sua família.

Mesmo com todas as dificuldades, Dona Davina ainda vê o espaço da horta comunitária como um lugar bom para plantar. “O que precisa é cuidar direito, pois a água é pouca e não dá prá segurar todos os canteiros”, diz. Acredita que se plantar em apenas quatro canteiros, dá para levar a água da cisterna. O canteiro é sistema econômico. Ela diz que na época da seca não aguentou buscar água de fora, do barreiro ou da lagoa porque ficam longe e tem medo de machucar a coluna. O que a desanimou também foi que, com a queda da cerca, as criações entraram e estragaram os canteiros. Lamenta pela a horta estar há mais de um ano sem funcionar, onde plantou coentro, cebola, couve, cenoura, beterraba, alface, tomate e pimentão. Deseja que o grupo se reanime e reative a horta com os cuidados a partir da lição que já experimentaram.

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