Gustavo Lopes Santos e Nanci Felix Carvalho dos Santos (2013)

Experiência em Pilão Arcado mostra que estiagem não impede produção de alimentos agroecológicos

Canteiro de Seu Gustavo e Dona Nanci em plena estiagem

Canteiro de Seu Gustavo e Dona Nanci em plena estiagem

Gustavo Lopes Santos, 60 anos, e Nanci Felix Carvalho dos Santos, 55 anos, são casados há 33 anos e moram na comunidade rural de Barreiro do Vicente, em Pilão Arcado, Bahia. Ambos nasceram em Pilão Arcado, mas se conheceram em São Paulo no período em que moraram por lá. Com o desemprego e as dificuldades da cidade grande, Seu Gustavo e Dona Nanci resolveram voltar para a terra em natal em 2002. O casal possui dois filhos adultos, uma neta e outra que está para nascer.

Eles contam que começaram a experiência de produção de alimentos agroecológicos no quintal e a criação de pequenos animais há cerca de três anos após serem contemplados com uma cisterna calçadão de 52 mil litros. Seu Gustavo lembra que antes da cisterna de produção as plantas morriam durante a época de estiagem e passavam por dificuldades porque na comunidade não há aguadas próximas de casa. Agora, além da água para consumo da família e para produção, eles aprenderam a cuidar das plantas e dos animais garantindo segurança alimentar e nutricional da família e geração de renda com a venda do excedente.

Dona Nanci, afirma que eles não sabiam cuidar das plantas. Com as atividades de formação e assessoria do SASOP, Serviço de Assessoria a Organização Populares Rurais, aprenderam a usar a técnica do gotejamento com garrafas plásticas e manter a plantas vivas mesmo em época de seca. A agricultora revela que é uma alegria poder participar de encontros e intercâmbios em outros lugares para trocar e conhecer outras experiências. Foi assim que começaram a aperfeiçoar o cultivo agroecológico no quintal.

A rotina do casal começa antes das 5 horas da manhã, quando levantam e vão logo cuidar do canteiro, antes mesmo de fazer o café. Depois vão cuidar dos animais, colocar água nas garrafas do gotejamento e limpar a propriedade. Seu Gustavo diz que assim que amanhece o dia já sentem falta do cheiro do verde do canteiro.

Plantam de tudo um pouco: pimentão, alface, couve, beterraba, coentro, cenoura abobrinha, frutas, plantas medicinais. Tudo para o autoconsumo, mas o excedente ainda dá para vender na cidade. Dona Nanci afirma que as pessoas ainda não valorizam muito os alimentos agroecológicos, mas já conseguem vender bem.

Seu Gustavo conta que as pessoas acham incrível eles conseguirem manter o cultivo de alimentos, a criação de galinha e caprinos com a seca que estão passando. Há três anos não chove e possuem pouca água. Também não tem energia elétrica. Ainda assim, a produção continua. Eles se orgulham da dedicação que têm e dizem que a terra é muito boa. Pode dar o que quiser plantar. Só precisa ter força de vontade e dedicação para cuidar.

Afirmam que uma das coisas mais importantes que aprenderam foi fazer o composto orgânico para adubar as plantas. Eles contam que molham o chão e vão fazendo camadas de folhas e esterco. Depois cobrem e vão molhando todos os dias até o composto ficar pronto. Aproveitam cascas de frutas, folhas secas, o que tiver. Não colocam fogo em nada. Para combater os insetos, usam o sumo feito do Nim, planta usada para combater insetos e pragas, ou sabão em pó diluído na água.

A alimentação mudou para melhor porque deixaram de comprar fora os alimentos. Hoje eles produzem os ovos, as hortaliças para o tempero, as verduras, as frutas, poucas coisas são compradas fora. Na renda, também houve impacto positivo porque não possuem nenhuma renda fixa no momento. Vivem do que produzem. Seu Gustavo diz que em breve conseguirá se aposentar e a renda será investida na propriedade.

Para o casal, o que os deixa mais satisfeitos é todo esse aprendizado das reuniões, das viagens de intercâmbio, do acompanhamento técnico. Agora, quando vier a próxima chuva para encher a cisterna, pretendem reflorestar toda a propriedade com plantas nativas da caatinga. Seu Gustavo diz que quer fazer a diferença. No futuro, afirmam que querem deixar uma terra boa seus filhos e netos e deixam como mensagem para outras pessoas que não é bom sair da terra natal como fizeram. Apontam ainda que as pessoas precisam se unir e buscar parcerias para viver bem e que a juventude tem de aproveitar as oportunidades oferecidas pelas organizações locais para desenvolver atividades produtivas.

One response to this post.

  1. Posted by Eva Lopes Ferreira Pimenta. on 11/01/2014 at 2:16

    Este projeto é de extrema importância para as regiões do semi-árido, mas lamentavelmente o mesmo é pouco divulgado e por conta disto, poucas famílias estão envolvidas com o mesmo. Moro no município de Casa Nova- Ba e faço parte de uma Associação de Agricultores Rurais recém formada e estamos precisando de muito apoio para conseguirmos Cisternas para Produção para desenvolver as nossas atividades, porque sem água para trabalhar não chegaremos a lugar algum. Qualquer ajuda de vocês será de grande importância para a nossa Associação. Gratos pela atenção.

    Eva Lopes Ferreira.

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